segunda-feira, 2 de maio de 2011

ensaio sobre a construção social do riso

Escrever sobre a função social do riso, pode nos levar a grandes gargalhadas, dependendo do momento pelo qual se estiver passando. O riso pode convergir para um choro, ou risadas incontroláveis, dando claras demonstrações de como nossas subjetividades pode ser pêga em flagrantes, a ponto de não podemos esconder ou disfarçar sobre nossos sentimentos.
O que quer dizer, que momentos comuns ou incomuns em nossas vidas, pode nos abri um riso excitante ou revelador de nosso estado de espírito expressando contentamento ou fragilidades, sobre as formas como exercitamos nossas relações com as pessoas, grupos sociais acerca de que tipo de poder ou que valor atribuímos às nossas várias relações desde as intimas passando pelas profissionais, políticas entre outras.
Sobre estas possibilidades aqui levantadas, podemos questionar: o riso que exercitamos cotidianamente é ou não uma construção sócio cultural? Tem ou não uma clara função social e de poder?. Na dúvida, porque não indagar: porque será, para que e de que rimos, às vezes discretamente, outras descontroladamente e assim vamos levando.
Ampliando nossa compreensão chegamos a pensar que os risos não são iguais mesmo diante de fatos ou acontecimentos que vemos no mesmo momento, quando estes chegam a ser engraçado ainda assim pode haver diferenças de percepção nos detalhes. E o riso vão dando formas e contornos a outros risos tornando-se engraçado os jogos de sinais que os descodificam.
Ainda assim podemos suscitar uma nova reflexão: existe ambiente apropriado para exercitar o riso ao fazermos uso de nosso estado de espontaneidade ou ainda de nossos interesses ! o riso pode se constituir numa estratégia ou recursos de dissimulação para conquistarmos ou seduzirmos seja lá quem for?.
Porém em situações às vezes incomuns, o riso pode calar multidão ou levar a todo a uma gargalhada podendo ser esta por bestialidade ou cenas de inteligência coletiva. Ganhando uma plasticidade, finitude e porque não dizer, construindo assim uma estética do riso.
Diante da vontade de rir nada de muitas certezas no front, por isto ser possível chorar e rir ao mesmo tempo diante de perdas de entes queridos, de um anuncio de conquistas, de uma fatalidade, de uma traição, de uma gafe, ou de uma piada boa ou ruim ou mal contada, diante de um gracejo ou mesmo de uma situação previamente anunciada que talvez ninguém tivesse dando tanta importância. Logo o que não parecia tão engraçado nos leva ao riso desconcertante, hilário, indisfarçável.
Por isto poderíamos acenar com uma breve pergunta: é possível constituir uma tipologia do riso, nos fazendo pensar que diante de lógicas sociais e de poder este pode ser enquadrado, padronizado pelo que ele pode representar em determinados contextos ?  assim, políticos, poetas, empresários, padres, pastores, prostitutas, bandidos, infratores, professores, intelectuais, bruxos, e o mais comum dos mortais poderiam ao inventar em sua total espontaneidade suas maneiras de rir e sem tirar o brilho, com o tempo perder-se  no abismo das tramas e dos utilitarismos sociais e passar a ganhar vivas formas há expressar um novo tipo de metalinguagem.
Penso que o melhor que tenho a fazer neste momento, é rir de minha idiossincrasia, pois estou desconfiando que o leitor neste instante estar dando uma grande gargalhada de minhas viagens pelo universo do riso.
Mais tudo bem vou correr este risco, pois já ouvir muitos comentários de que o riso faz bem a saúde. Acho bom relativizar, pois dependendo do estado de espírito em que nos encontramos  
esta afirmativa pode ou não ser verdadeira. Imagine alguém em profundo estado de dor devido às atrocidades que a arte do viver lhes impõe ou amputa o direito ao colocar-lhe  diante de indefinidas situações. Há contextos sociais ou momentos pouco confortáveis ou desfavoráveis para estabelecer ou aflorar de bom grado estado de riso, pelo simples fato de ter que rir. Talvez nem a frase do poeta da fresta que diz: “que rico rir a toa” seja apropriado para certas ocasiões. Neste sentido o riso forçado pode ser veneno para a alma.
Então se quisermos por o riso para uma analise dentro de contextos sociais, já que a sociabilidade é uma das marcas inconteste de que há vidas em sociedades interagindo neste planeta, poderíamos dizer que numa disputa acirrada pelo controle de qualquer ambiente social, o riso passasse a ganhar um status, como instrumento eficaz e sem sombra de dúvida, tão poderoso quanto à oratória, uma vez que sabemos que a capacidade argumentativa, faz a diferença para o desarme do oponente, no entanto se os argumentos forem frágeis e inconsistente poderão constituir em motivos para uma gargalhada coletiva, homérica, gostosa e quase intermináveis há ridicularizar o adversário.
 Por exemplo, na disputa por um grande amor, o sujeito verdadeiramente apaixonado em estado hilário de amorificação apoiando-se num trecho poético de Vinicius de Moraes em parceria como maestro e compositor Tom Jobim poderiam recitar sorridente o seguinte verso de garota de Ipanema: “Há se ela soubesse que quando ela passa o mundo sorrindo se enche de graça por causa do amor”, não contente o oponente vai até a alma poética viniciana, para dizer feliz:” quero vivê-lo em todos os vão momentos e em seu louvor hei de espalhar meu canto e rir meu riso e derramar meu pranto ao seu pesar ou seu descontentamento”
Porem se estivermos num estado de total espontaneidade, o riso pode nos tornar de bom grado “palhaços da alegria”, tão engraçados que qualquer pessoa sensata decifraria nosso bom humor, através do riso como um verdadeiro estado de graça daqueles que inclusive chegamos a verter lágrimas de contentamentos ainda que seja seguindo de interrogações.
Quem nunca riu de um mico pago em público? Como um tombo de algum sujeito no ônibus lotado, de um bêbado provocando gente aparentemente séria cochilando em qualquer lugar, de crianças dizendo coisas desconcertantes na frente de adultos, do falastrão contando piada que nem ele consegue rir de tão sem graça: aí sim, vale à pena rir da “desgraça”.
E só para finalizar, sinto muito pelos que temem ou evitam o riso, por motivos de recalque, falsos moralismos, ou castração de sua natureza humana. O riso é a capacidade inerente e ontológica que carregamos em nossas vidas e por ele também sobrevivemos , sussurramos , sentimos prazer, pedimos perdão, mudamos nosso estado de humor, convivemos e aprendemos lidar com estados de sabedoria e até nos flagramos flertando na busca de um grande amor.
O bom e belo riso não estar simplesmente na perfeita arcada dentária, pois que ele é a expressão também o estado de espírito de cada um, da maturidade, da sabedoria, da vontade de se libertar e da expressão simbólica de contentamento e felicidade construída, na completude e interdependência  de seus múltiplos órgãos que dão vida a sua existência  .

Por isto deixemos aflorar o riso, tirar de nossa caixa preta as emoções que residem em nós, sentenciando que somos humanos demasiadamente humanos, por isto nossa existência é também dual, e aproxima em nós pares de opostos: a delicadeza e a barbárie, a alegria e a tristeza, o homem sapiens, fabens e demens que reside em nós,mostrando nossos lados     fortes e fracos, como nos ensina Chico Buarque em “não sonho mais”: “ tu que foi tão valente chorou pra gente, pediu piedade, e olha que maldade me deu vontade de gargalhar”.
Portanto, não levemos a vida tão a sério, rir é um estado de espírito, um estado humano, um estado divinal que se funde em nós poeticamente e nos faz suplicante mesmo estando em plena despedida. O riso tudo pode, até mesmo como diz Pablo Neruda; “pertencer a uma árvore entreaberta por raios (...) ser um riso bem amante (...) ser o ar desatado nas alturas (...) ser a sombra, à noite, a manhã, o mel do meio dia”. l
Por isto o riso é começo, é amor, é meio, é alma, enfim é poesia construída ora na dor  ora na alegria. Dário Azevedo.     

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